Se você achou que a novela do risco sacado e do IOF já tinha chegado ao clímax, prepare-se para mais alguns plot twists, ou reviravolta dignos de um roteiro escrito por um burocrata entediado e um banqueiro sorridente.
Ah, o risco sacado! Também conhecido como confirming, factoring ou, para os mais íntimos, “aquela mãozinha que parece boa, mas vem com uma facada por trás”. E quando você joga o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nessa mistura, a coisa fica ainda mais hilária (se você tiver um humor bem ácido e não for um produtor rural com dor de cabeça).
O Que Diabos é o Risco Sacado?
Vamos lá: O fornecedor de insumos (o que vende semente, adubo, agrotóxico) ele já sabe que o produtor vai pegar um risco sacado e que o banco vai cobrar dele (do produtor, claro). Mas como ele não é bobo nem nada, ele já embutiu uma “gordurinha” no preço para compensar qualquer dor de cabeça futura. É o famoso “preço amigo, mas nem tanto”.
O produtor rural, por sua vez, já está pagando o insumo mais caro, e ainda tem que arcar com os juros do banco e o famigerado IOF. É como comprar um carro e, além de pagar as parcelas, ter que pagar um imposto pela “operação de financiar o carro”. E ele ainda se pergunta por que o chapéu na cabeça dele está mais pesado.
Já o atacadista/processador, o intermediário recebe o produto do campo já com um custo embutido de todas essas taxas. Ele, que também não está ali para fazer caridade, acrescenta sua margem de lucro e, claro, repassa o custo extra para o próximo.
Ai, aparece a figura do varejista (o supermercado do seu bairro), que adquire o produto já com três camadas de custos adicionais. E como o aluguel da loja não se paga sozinho, ele coloca mais uma margem, repassando o banquete de custos para você. Por último, chega nós, o consumidor final que descobre que a batata, o arroz, o feijão, as carnes chegam às nossas mesas com um preço inflacionado por toda essa cadeia de “mãozinhas” e impostos. E você leitor, achando que o problema é só a chuva ou a seca, quando na verdade é a burocracia e a ganância disfarçada de “ajuda” que estão corroendo seu poder de compra. É a inflação disfarçada de eficiência financeira, um verdadeiro gênio do mal!
E onde entra o “Famigerado” IOF?
Agora, a cereja do bolo, o toque de gênio da nossa burocracia: o IOF – (Decreto nº 12.467, de 23 de maio de 2025). Esse imposto é como aquela pulguinha que você não vê, mas sente a coceira o tempo todo. No caso do risco sacado, o IOF incide sobre cada uma dessas operações financeiras com a alíquota de 0,0041% para pessoas jurídicas, mais 0,38% na contratação. Ou seja, além dos juros que o banco já te enfia, o governo vem e tasca mais um imposto em cima da sua “mãozinha”.
Nosso herói do campo, já acostumado a lutar contra pragas, secas e a inconstância do mercado, agora tem mais um inimigo: as taxas e impostos que o espreitam em cada esquina. O risco sacado, que deveria ser um alívio, se torna mais um custo. Imagine o produtor tentando explicar para a esposa o porquê daquele lucro menor: “Ah, querida, foi o IOF no risco sacado, o banco me ajudou, mas o governo me ajudou a perder um pouco também…”
No cenário internacional cada vez mais competitivo, nossos produtores rurais, já com o chapéu na mão, têm que se virar para competir com países onde o crédito é mais barato e a burocracia menos asfixiante, como o caso da Europa com a simplificação do PAC para os produtores rurais. O risco sacado com IOF é mais uma pedra no sapato, tornando nossos produtos menos atraentes e, consequentemente, diminuindo nossa “moral” nas rodas de conversa do agronegócio global.
E a segurança alimentar?
Ah, a segurança alimentar! Aquele conceito nobre que diz que todo mundo deveria ter acesso a comida de qualidade. Com o risco sacado e o IOF dando sua contribuição para encarecer a produção, o que acontece? Vamos lá: Se o produtor gasta mais para produzir, adivinha quem paga a conta no final? Eu, você, nós, meu caro! O preço daquele pãozinho francês, da carne de cada dia, daquela fruta fresquinha… tudo tende a subir. Afinal, não existe almoço grátis, né? É como se a inflação tivesse uma ajudinha extra do governo e dos bancos, garantindo que sua carteira fique mais leve a cada ida ao supermercado.
Com a rentabilidade do agronegócio diminuindo, alguns produtores podem até pensar duas vezes antes de investir pesado na próxima safra. Isso significa menos oferta de alimentos no mercado. E menos oferta, como diria qualquer economista com um pingo de bom senso, significa preços mais altos e, em casos extremos, até escassez. Ou seja, aquela comédia de erros pode virar um drama shakespeariano no seu prato.
A exportação de produtos agrícolas é fundamental para a nossa balança comercial. Mas com o custo de produção inflacionado pelo risco sacado e o IOF, nossos produtos se tornam menos competitivos no mercado global. É como tentar vender gelo para esquimó, só que o seu gelo é mais caro e derrete mais rápido.
No fim das contas, o risco sacado com o famigerado IOF é um exemplo primoroso de como as boas intenções (ou a falta delas) podem se transformar em um pesadelo financeiro para quem realmente coloca a mão na massa. E, como sempre, quem paga a conta é o produtor rural, o consumidor e, por tabela, a segurança alimentar de todo mundo.
E fica um alerta: desde a safra 2023/24, o produtor rural opera com margens apertadas devido ao aumento dos custos, principalmente dos insumos. Para a safra 2025/26, se o aumento do IOF for mantido, os custos podem “estrangular” a produção.
Então, da próxima vez que você reclamar do preço do tomate, lembre-se: não é só a praga ou o clima. É também a “mãozinha” do risco sacado, o abraço apertado do IOF e toda a cadeia de repasses de custos que transformam a agricultura em um esporte de alto risco financeiro, ou seja, uma comédia de erros que só termina quando você paga a conta, ou quem sabe, como diz nosso ministro da economia: “corrigir outras distorções do sistema financeiro para abrir espaço para a calibragem do decreto” do IOF… Oxalá nos ajude…
Charlene de Ávila, Néri Perin