Muito se propaga que os agropecuaristas usufruem de benefícios e não pagam seus financiamentos. Isso não é verdade. Apesar de exercerem a árdua e incerta tarefa de produzir alimentos, são os que melhor pagam seus empréstimos.
Comecemos com uma constatação: quase 80% dos alimentos que a humanidade consome provêm de apenas doze espécies de plantas e cinco espécies de animais. A agropecuária garante nossa sobrevivência no planeta. É um processo natural, e o agricultor contribui com fé quase religiosa — como poeticamente descreve Cora Coralina em seu Poema do Milho:
> “Cheiro de terra, cheiro de mato. Terra molhada depois da noite chuvada, relampeada. Tempo mudado, dando sinais. Observatório… Calendário… Astronomia do lavrador, que planta com fé religiosa, sozinho, silencioso. Cava e planta. Gestos pretéritos, imemoriais. Liturgia milenar, ritual de paz. Em qualquer parte da Terra, um homem estará sempre plantando. Recomeçando o mundo. Recriando a vida.”
Enquanto o setor de serviços depende da capacidade laborativa e o comércio e a indústria de fatores mais previsíveis e mensuráveis, o setor primário lida com incertezas constantes. O clima nunca se repete. Pragas, doenças, secas, enchentes, vendavais e outros eventos climáticos fazem parte da rotina. Os processos biológicos não são plenamente gerenciáveis — envolvem inúmeros fatores e variáveis. A agropecuária é uma atividade de risco, mas absolutamente essencial.
Para garantir o fornecimento contínuo de alimentos, são necessários altos investimentos. Daí a importância do crédito rural. Contudo, a renda para quitar esses financiamentos depende de fatores muitas vezes incontroláveis — diferente do que ocorre nos setores secundário e terciário. Assim, seria natural supor que a inadimplência no crédito rural fosse maior. Mas não é!
O setor agropecuário é, segundo o Banco Central, o mais adimplente do sistema financeiro nacional. Os financiamentos rurais apresentam os melhores índices de pontualidade e são amplamente garantidos — com avais, hipotecas, penhor de bens e alienações fiduciárias. Mesmo em meio às maiores incertezas, o retorno dos recursos emprestados é praticamente garantido.
Por Néri Perin – Advogado