Aquecimento do planeta é um dos motivos das ocorrências recentes, segundo especialistas
Não é só impressão. Eventos climáticos extremos, como o ciclone que passou pelo Rio Grande do Sul na primeira semana deste mês, estão cada vez mais frequentes e intensos. Especialistas afirmam que a potência das chuvas, rajadas de vento e trovoadas se mostram cada vez mais fortes e capazes de causar tragédias. E a explicação para a maior frequência e força são as mudanças climáticas, segundo meteorologistas.
As enchentes no Estado que mataram 47 pessoas — até a última atualização — e afetaram quase 350 mil gaúchos não é um caso isolado. Simultaneamente, enchentes e devastação na Líbia e na Grécia, calor de 50 graus e incêndios generalizados no Canadá e na Europa, são outros exemplos de desastres causados por episódios extremos ligados ao clima no mundo.
Desde o fim do outono, todo inverno e começo da primavera, as ocorrências desses fenômenos são mais comuns, segundo Alexandre Nascimento, meteorologista da Nottus. Para ele, “o grande lance é a intensidade que, de fato, vem aumentando”.
De acordo com o especialista, o estágio atingido no consumo dos recursos naturais do planeta não tem volta, e a tendência é de fenômenos climáticos cada vez mais descontrolados.
Segundo Willians Bini, head de meteorologia da Climatempo, a intensificação e o aumento da frequência dos eventos extremos estão diretamente associados às mudanças climáticas e ao aquecimento do planeta.
“Hoje, a questão é como a gente pode quantificar esses impactos e contribuir para nossa adaptação. Agora, falamos em adaptação e não mais em mitigação”, corrobora Cleverson Freitas, agrometeorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Para lembrar outros episódios no Brasil, não é preciso ir longe. Em 2019, queimadas severas atingiram o Pantanal; em 2020, queimadas na Amazônia chegaram a escurecer o céu de São Paulo; e em fevereiro de 2023, o litoral norte paulista foi atingido pela maior chuva da história do país, que causou 65 mortes e destruiu cidades.
No campo não é diferente. “A agricultura é uma fábrica a céu aberto, totalmente dependente do clima para o planejamento de uma safra”, afirmou Freitas. Três anos seguidos de La Niña resultaram em uma seca catastrófica para a Argentina e para o Rio Grande do Sul. “Em 2022, houve relatos de produtores que não precisaram nem passar a máquina nos campos de soja para limpar sua pastagem, porque não vingou absolutamente nada”, acrescentou o meteorologista da Nottus.
Os ciclones extratropicais atuam no centro-sul da costa do Brasil, e por isso atingem majoritariamente o Rio Grande do Sul. O especialista do Inmet explica que eles se formam com dois ingredientes: diferença de temperatura — frio nos polos e calor nos trópicos. O fenômeno é criado a partir de ventos que giram em um círculo completo no sentido horário no Hemisfério Sul.
“A região do norte da Argentina, costa do Rio Grande do Sul e do Uruguai nem costuma ser navegada, porque ali é o berço dos ciclones”, exemplificou Nascimento.
Até o fim de 2023, é possível prever com certeza que vão ocorrer outros eventos, segundo ele. Diante disso, a região Sul continua sob risco, afinal, o prognóstico é de chuvas acima da média, inclusive abrangendo o sul do Mato Grosso Sul e o sul de São Paulo. No entanto, a previsão de onde e qual a intensidade do fenômeno só pode ser feita no curto prazo, disse o meteorologista da Nottus.