Empresa fará aportes ao longo de dez anos para produzir diesel ‘verde’ e bioquerosene de aviação
Por Fábio Couto — Do Rio – 17/04/2023
Em um dos maiores movimentos no mercado de biocombustíveis, a Acelen busca se posicionar no segmento ao anunciar investimentos de R$ 12 bilhões na produção de diesel “verde” e bioquerosene de aviação (HVO e SAF, nas respectivas siglas em inglês). A empresa fará os desembolsos ao longo dos próximos dez anos.
O plano da Acelen, que atualmente é responsável pela operação da refinaria de Mataripe, na Bahia, é estabelecer uma cadeia verticalizada para produzir biocombustíveis a partir do óleo da macaúba, planta natural da Bahia de alto poder energético e, até então, subaproveitado. A meta da Acelen é fabricar 1 bilhão de litros por ano a partir da produção da macaúba, em plantio em áreas degradadas que totalizam 200 mil hectares.
Do montante total a ser investido, a companhia destinará entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5bilhões para pesquisa e desenvolvimento. O foco desse trabalho será estabelecer um modelo denominado “Fazenda 4.0”, com altos níveis de inovação agrícola. A expectativa da Acelen é fazer 50% dos aportes necessários nos primeiros 36 meses de implantação do projeto.
Os R$ 12 bilhões que a empresa planeja desembolsar correspondem a pouco mais do que o montante que, em pouco mais de um ano, o fundo Mubadala, de Abu Dhabi, principal acionista da Acelen, utilizou para a compra e modernização da refinaria de Mataripe. “Isso é uma demonstração clara de quanto esse investimento, feito pelo refino privado, é importante para o Brasil nesse momento de atração de recursos”, disse Marcelo Lyra, vice-presidente de relações institucionais, comunicação e ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) da companhia.
A empresa pretende dominar todo o ciclo da produção, adotando um modelo verticalizado semelhante ao utilizado pela Brasil Biofuels (BBF), que produz biocombustíveis a partir do óleo de palma no Norte do país (a propósito, parte da equipe que desenvolve o projeto da Acelen trabalhou na BBF). Com isso, a Acelen quer dominar a genética e a produtividade da macaúba, o que reduz custos e traz ganhos de escala – o vegetal tem produtividade por hectare entre cinco e sete vezes maior do que a soja. Enquanto a produção não se torna realidade, a companhia usará, inicialmente, a soja para a produção dos biocombustíveis.
A previsão é que as obras de construção da biorrefinaria comecem em janeiro de2024 e a produção, no primeiro trimestre de 2026. Segundo o vice-presidente de novos negócios da Acelen, Marcelo Cordaro, o foco da empresa é comercializar o diesel verde e o SAF no mercado externo, sem deixar de lado a demanda interna. A empresa já possui mercados-alvo e está em busca de certificação para atuar neles, destacou o executivo. Ainda não há definição de modelos de contrato e formatos de comercialização, mas, em conversas preliminares com potenciais agentes do mercado, a Acelen já percebeu que o interesse elevado. A demanda por produtos verdes é alta entre as empresas que precisam descarbonizar as operações.
“O interesse por esse tipo de combustível é altíssimo, a taxa de substituição [de combustíveis fósseis] é limitada pela [baixa] disponibilidade [do produto], afirmou Cordaro. A Acelen estima que a iniciativa resultará na retirada de 80 toneladas de carbono da atmosfera em 30 anos, completou Lyra. Além da comercialização dos biocombustíveis, a Acelen pode contar ainda com os créditos de carbono como receita adicional.
Como a nova unidade é flexível, a produção pode se ajustar de acordo com os contratos, o que permitirá uma produção de até 100% de diesel verde ou de até100% de combustível de aviação, a depender dos acordos comerciais, sem necessidade de ajustes nos processos produtivos. A biorrefinaria contará com recursos próprios e linhas de financiamento. Com a assinatura do memorando de entendimentos com o governo da Bahia, a expectativa é que várias fontes de financiamento surjam no horizonte. “Estamos trabalhando com diversos órgãos financiadores. Esse tipo de projeto atrai muitas instituições”, afirmou Cordaro.