Mas trabalho da McKinsey aponta aumento do interesse entre os agricultores de menor porte
Passada a fase crítica da pandemia, arrefeceu a tendência geral de aumento do interesse dos produtores rurais brasileiros em digitalizar seus negócios, mas essa relativa estabilização ficou mais homogênea graças ao avanço entre os agricultores de menor porte.
É o que aponta a edição deste ano do estudo “A Cabeça do Agricultor Brasileiro”, recém-concluído pela consultoria McKinsey a partir de informações coletadas com aproximadamente 750 produtores de regiões e portes variados e dedicados a diferentes culturas. O resultado não chega a surpreender, até porque está em linha com o comportamento da população como um todo a partir do momento em que as restrições de circulação geradas pela covid-19 começaram a ser relaxadas.
Em 2019, o trabalho da McKinsey apontou que 36% dos agricultores consultados preferiam canais digitais para realizar suas compras. Em 2021, o percentual subiu para 46%, e neste ano recuou para 41%. “Essa é uma tendência global. Com a retomada de um modelo híbrido de comportamento, os multicanais ganharam força”, disse Nelson Ferreira, sócio sênior da consultoria. “Ainda assim, o nível de adoção de ferramentas digitais é maior entre agricultores brasileiros do que entre americanos e europeus”.
Na apresentação do novo estudo ao Valor, conduzida por Ferreira, Mikael Djanian e Ana Luiza Mokodsi, a McKinsey destacou que, embora o percentual geral tenha tido leve queda, houve casos de aumento considerável do interesse pelo meio digital. “Entre pequenos produtores de grãos da região Sul do país, por exemplo, foi possível notar que o percentual [dos que fazem compras online para suas propriedades], que estava entre 25% e 30%, subiu para cerca de 40%”, afirmou Ferreira.
Recompra
Segundo ele, os agricultores em geral consideram importante o “olho no olho” sobretudo por questões mais técnicas, ou na compra de um determinado produto pela primeira vez. Nas recompras, o índice dos que recorrem aos meios digitais é maior. O estudo também aponta que 50% dos agricultores brasileiros consultados já adotam algum tipo de tecnologia em suas propriedades, e que esse percentual se aproxima de 70% no Cerrado, onde estão os produtores de grãos de maior porte.
Das tecnologias, o sensoriamento remoto é uma das mais utilizadas. Também é crescente o interesse por ferramentas financeiras, seja por questões econômicas ou de conveniência, e é flagrante o aumento no campo da preocupação com a sustentabilidade da produção. “Os agricultores brasileiros lideram a adoção de práticas sustentáveis, com o plantio direto desfrutando de taxas de adoção acima de 80%”, aponta o estudo.
Mais de 60% também recorrem a culturas de cobertura e ao uso de produtos biológicos. Mas, apesar do grande potencial do país, apenas 6% dos produtores consultados afirmaram já fazer parte de alguma programa envolvendo créditos de carbono.