Até 2030, segundo estudo da McKinsey, demanda no país tem potencial para atingir US$ 2,3 bi
Em um momento que o Brasil discute a criação de um mercado regulado de carbono, o mercado de carbono voluntário, que já está rodando, aparece como uma alternativa atrativa para companhias que buscam reduzir as emissões de gases do efeito estufa antes que a legislação as obrigue a fazê-lo. Segundo relatório da consultoria McKinsey, publicado com exclusividade pelo Prática ESG, até 2030, a demanda por créditos voluntários no Brasil pode atingir de US$ 1,4 bilhão a US$ 2,3 bilhões.
Hoje, o país emite menos de 1% desse potencial estimado. Projetos de reflorestamento, de agricultura e de combate ao desperdício de energia, hoje com valores de toneladas de carbono muito baixos, poderiam alavancar a geração de créditos.
A McKinsey avalia que as previsões dependem que a temperatura do planeta aumente em, no máximo, 1,5º C neste século. Neste cenário, o Brasil poderia responder por 15% do potencial total da oferta de soluções baseadas na natureza, percentual que supera de longe as possibilidades de países como Estados Unidos (3%), China (2%) e Rússia (2%). Apenas a Indonésia tem um potencial de oferta comparável, mas o Brasil tem vantagens intrínsecas (por exemplo, a maior floresta tropical do mundo, a Floresta Amazônica) e pode liderar a agenda voluntária do mercado de carbono, na opinião dos consultores e analistas da McKinsey.
Isso significa que o potencial de geração de receitas do Brasil a partir desse mercado está na faixa de US$ 7,5 bilhões a US$ 15 bilhões, afirma a consultoria. “Sem o Brasil, o mundo não se descarboniza”, avalia Henrique Ceotto, sócio e líder da prática de sustentabilidade da McKinsey no Brasil. Os últimos dados do Ecosystem Marketplace, iniciativa que compila informações de projetos de carbono em todo o mundo, que vão até agosto de 2021, mostraram um aumento de 60% do mercado voluntário de comercialização de crédito de carbono no Brasil naqueles oito meses em relação a todo o ano de 2020.
A expectativa na época é que o país superasse a barreira de US$ 1 bilhão comercializados ainda em 2021. Na opinião da consultoria, para alavancar a economia verde e liderar o mercado de carbono global nos próximos anos o Brasil ainda precisa superar barreiras regulatórias e garantir a governança dos créditos de carbono que são comercializados no mercado voluntário.
A McKinsey observa ainda que é necessário maior adesão das empresas brasileiras a iniciativas de neutralidade de carbono, o chamado net zero. Para Ceotto, a governança é o ponto-chave para que o mercado floresça e atinja a maturidade estimada, inclusive para a exportação de créditos. “Precisamos evoluir para termos uma governança integrada que oriente o governo na legislação, que trabalhe com standards [parâmetros] internacionais para localizar metodologias, que crie e ajude o mercado financeiro a desenvolver produtos de referência e que sirvam de lastro para projetos de financiamento”, afirma. “Isso exige aceleração. Essas coisas vão evoluir, mas precisamos de uma intensidade diferente, maior”, completa.
Os prognósticos positivos para o mercado de carbono voluntário também dependem das iniciativas das empresas. Em um cenário indesejado, se os compromissos de descarbonização das empresas brasileiras continuarem nos parâmetros atuais, as emissões de poluentes poderão aumentar em 8% até 2030 e 45% até 2050, o que levaria a um crescimento da procura por créditos de carbono equivalente como forma de compensação além do indicado. Esses créditos compensatórios são também chamados de “offsets” ou simplesmente compensações. “O mercado voluntário funciona quase como um seguro para o Brasil e para o mundo.
O ideal é que todos sigamos o cenário de [aumento de temperatura em até] 1,5 ºC e façamos offset de processos que não temos tecnologia para descarbonizar. Mas se tivermos um mercado vibrante voluntário, mesmo se não conseguirmos o cenário de temperatura ideal, controlamos o carbono através de offsets. Não é o ideal, mas traz uma segurança”, afirma Ceotto. Para compreender o cenário da iniciativa privada hoje, a McKinsey mapeou os compromissos de 80 empresas. Os resultados demonstram que as companhias precisam alavancar suas metas de descarbonização: 23% ainda não se dispuseram a reduzir emissões de gases do efeito estufa e 41% não se comprometeram a chegar ao net zero ou mesmo à neutralidade de carbono.
Além disso, 10% das organizações pesquisadas sequer têm compromissos para redução ou neutralidade de emissões e 56% não são signatárias da Science-Based Targets Initiative (SBTi), iniciativa que publica fundamentos para definição de metas de descarbonização com base em metodologia científica. “Daqui a um ano, a situação pode estar bem diferente. Até 2020, por exemplo, eram em torno de 500 empresas no mundo que assinavam o SBTi. De 2020 até a última COP [novembro de 2021], esse número subiu para 2 mil. Nos últimos quatro ou cinco meses, foram mais 800 ou 900”, analisa Ceotto, da McKinsey. O programa SBTi fechou o ano de 2021 com 2,2 mil empresas integrantes.