Embarques brasileiros poderão chegar a 40 milhões de toneladas em 2022, segundo projeções
O cenário para as exportações de milho do Brasil ficou ainda mais favorável após a expedição Pro Farmer, que monitorou as principais regiões produtoras nos Estados Unidos, apontar uma nova queda na produção do país. A previsão agora é que a colheita americana deverá ficar em 349,5 milhões de toneladas nesta safra 2022/23, 15 milhões a menos que o volume previsto pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) em seu relatório de agosto.
Segundo Flávio Roberto de França Júnior, coordenador de grãos da consultoria Datagro, a nova projeção soma-se a outros elementos que reforçam que as exportações brasileiras de milho deverão alcançar cerca de 40 milhões de toneladas este ano, perto do recorde de 42,7 milhões de 2019. “Há demanda de todo o lado, seja pelo conflito na Ucrânia, pela seca nos EUA e na Europa ou por questões geopolíticas que venham a levar a sanções americanas contra os chineses”, disse França Júnior ao Valor. De fato, as vendas externas estão maiores em 2022 como já era esperado após a quebra de safra no Brasil no ano passado. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), de janeiro a agosto os embarques somaram 19,1 milhões de toneladas. Em todo o ano passado, foram 20,6 milhões. “Diferente da soja, que tem demanda mas não tem oferta no Brasil [por causa dos problemas climáticos na região Sul], o milho tem disponibilidade e está com um excedente para exportação.
Esse ritmo acelerado de embarques vai durar até o fim do ano”, disse. No início de agosto, como noticiou o Valor, autoridades de Brasil e China assinaram um acordo sanitário que permitirá a venda do milho brasileiro ao país asiático ainda neste ano — e não em 2023 como havia sido comunicado anteriormente pelo Ministério da Agricultura. Assim, o Brasil ganhará um canal de escoamento para um mercado com forte demanda. De acordo com o USDA, a China deverá importar 18 milhões de toneladas na safra 2022/23. “Nós temos uma carência mundial pelo milho e um fato novo importante nesse cenário: a liberação das exportações brasileiras à China. Não dá para cravar quanto os chineses vão comprar do Brasil, mas geralmente eles importam grandes volumes”, afirmou França Júnior.
André Pessôa, CEO da Agroconsult, também espera volumes robustos saindo do Brasil após o acordo com a China. “Já exportamos para Ásia, Oriente Médio, América Latina e Europa. A China Será outro grande impulso para as vendas brasileiras, ainda mais num momento em que EUA e Ucrânia estão com quedas de produção”, disse Pessôa, que também prevê embarque de 40 milhões de toneladas do Brasil este ano. Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado, é mais cauteloso em relação em relação ao país asiático.
Segundo ele, não haverá grandes quantidades embarcadas à China neste ano e talvez nem em 2023. “O protocolo sanitário assinado para importação do milho funciona como uma proteção ao primeiro navio que levar a carga, assegurando que o produto embarcado no Brasil não será contaminado ao chegar na China. Mas isso não significa que os chineses vão comprar agora, pois estão há 30 dias de uma colheita superior a 270 milhões de toneladas. A necessidade de importação pode vir apenas no primeiro semestre de 2023, após o fim da temporada de exportações do Brasil”, ressaltou.
Ainda assim, o analista espera uma demanda por milho do Brasil aquecida até o fim do ano, especialmente da Europa, onde as lavouras vêm sofrendo com a onda de calor. “A Europa tem uma quebra no milho de 15 milhões a 20 milhões de toneladas. Parte dessa demanda será suprida por trigo, e parte pelas importações de milho brasileiro e argentino”. A Safras & Mercado calcula as exportações do Brasil de 37 milhões de toneladas em 2022, volume que poderá crescer à medida que a demanda aumente e o câmbio estimule o fluxo. “Pode passar de 40 milhões de toneladas, sim, mas para isso o país precisa embarcar uma média de 3,5 milhões de toneladas por mês no último quadrimestre. O câmbio em um patamar de R$ 5,20 estimula as vendas. Demanda nós teremos, mas não dá para cravar o comportamento do dólar diante da volatilidade do mercado”, frisa o analista da Safras.