No país, múlti cresce na mistura de adubos e no varejo de insumos
Maior fornecedora de cloreto de potássio do mundo, a canadense Nutrien viu a demanda e os preços de seu nutriente dispararem com o recrudescimento das tensões no Leste Europeu e a invasão russa na Ucrânia, e tratou de se preparar para o que estava por vir. Em meados de março, anunciou que ampliaria em 1 milhão de toneladas sua oferta neste ano, para 15 milhões, mas seus planos vão bem além disso.
“Com os investimentos que fizemos, que superaram US$ 1 bilhão, aumentamos nossa capacidade em 20% nos últimos dois anos, e somos responsáveis por 70% da produção nova de cloreto de cloreto de potássio no mundo no período. Mas já temos condições de chegar a 18 milhões de toneladas”, disse Ken Seitz, CEO interino da Nutrien, ao Valor.
Com seis minas localizadas no Canadá, a empresa agora vai esperar a evolução da demanda para medir em quanto tempo chegará ao novo patamar – o que, em boa medida, dependerá da duração da guerra. Mas, enquanto isso, já faz planos para um novo salto, desta vez da ordem de 5 milhões de toneladas. O mercado mundial de cloreto de potássio movimenta 70 milhões de toneladas por ano, e a forte dependência do Brasil de importações, que cobrem mais de 90% da demanda doméstica, ajuda a mantê-lo em constante evolução.
O portal para a aceleração do crescimento da Nutrien começou a se abrir no ano passado, com as sanções de países ocidentais a Belarus, também relevante no segmento. E se escancarou com a guerra na Ucrânia, a partir do fim de fevereiro. Os reflexos dessa combinação no mercado bateu forte nos resultados da canadense no primeiro trimestre.
A receita global da companhia atingiu US$ 7,7 bilhões de janeiro a março, 64% mais que em igual intervalo de 2021. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado aumentou 224%, para US$ 2,6 bilhões, e o lucro líquido subiu mais de 900%, para US$ 1,4 bilhão.
A receita na área de potássio registrou alta de 203%, para US$ 1,9 bilhão, mas a Nutrien também trabalha com fertilizantes derivados de nitrogênio e fosfato, e esses também registraram avanços – de 155%, para US$ 1,5 bilhão, e 64%, para US$ 563 milhões, respectivamente. Já a Nutrien Ag Solutions, que inclui as operações de varejo da empresa, avançou 30% no trimestre, para US$ 3,9 bilhões.
Na área de varejo, a companhia atua no Canadá, nos Estados Unidos, na Austrália, na Europa e no Brasil. Mas nenhum mercado tem crescido tanto quanto o brasileiro. Por aqui, está em curso uma profunda consolidação de cadeias de insumos, e a Nutrien é uma das protagonistas desse processo. A empresa já conta com 39 lojas no país, além de 13 “Centros de Experiências” – onde, além de produtos, é oferecida uma ampla gama de recomendações e serviços, físicos e digitais destinados a maximizar o uso de insumos agrícolas nas lavouras.
Seitz confirmou que o número de centros do gênero deverá chegar a 50 até o fim do ano. “O Ebitda da nossa rede de varejo em todos os países em que atuamos chegou a US$ 1,9 bilhão em 2021. No Brasil, o objetivo é chegar a US$ 100 milhões até 2023”, disse.
E estão em curso outros investimentos no país. Sem contar eventuais novas aquisições, os aportes previstos em 2022 chegam a R$ 600 milhões, boa parte destinada ao início da construção de quatro novas unidades de mistura de adubos (onde são fabricados os produtos finais aplicados nas plantações) – já há quatro em operação, com capacidade total de produção de 700 mil toneladas por ano, e o projeto para os próximos anos é chegar a 12.
Incluindo todos os negócios, a Nutrien já faturou cerca de R$ 3 bilhões no Brasil em 2021, com aumento de 70% ante 2020 e nove vezes a mais que em 2019.