Receios aumentaram e que o conflito interrompa novamente as exportações de trigo do Mar Negro
Por Paulo Santos — São Paulo
Assim como aconteceu na véspera, as tensões entre Rússia e Ucrânia seguiram dando suporte aos preços do trigo na bolsa de Chicago. Os papéis do cereal para março, os mais negociados, avançaram 1,52%, a US$ 7,6050 por bushel, e os lotes para maio fecharam em alta de 1,54%, a US$ 7,49 por bushel.
Ontem, os Estados Unidos e a Alemanha anunciaram ajuda aos ucranianos no campo de combate com o envio de tanques de guerra. A Rússia acusa o Ocidente de envolvimento no conflito, e o crescimento das tensões geopolíticas pode frear o abastecimento de trigo pelo Mar Negro .
“O anúncio do apoio militar à Ucrânia levou a uma nova ofensiva russa com o uso de foguetes, que geram preocupações sobre as saídas de trigo do Mar Negro. Isso pode aumentar as origens de outros países, como os EUA”, destaca Luiz Pacheco, analista da TF Consultoria Agroeconômica.
Nesse sentido, a demanda por trigo americano já vinha dando sinais de elevação, que foi confirmada hoje pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
De acordo com o órgão, as vendas do cereal alcançaram 500,4 mil toneladas na semana encerrada em 19 de janeiro, com crescimento de 6% em relação à semana imediatamente anterior e de 84% em comparação com a média em quatro semanas.
Por fim, Pacheco lembra que o clima em áreas produtoras dos EUA sustentou também os preços. “A previsão para os próximos dias é de frio muito intenso no sul das Grandes Planícies. Isso poderá causar perdas nas lavouras que estão com pouca cobertura de neve”.
Soja
Com uma demanda pela soja dos EUA em alta, os preços subiram em Chicago. Os contratos da oleaginosa com vencimento para março, os mais negociados, fecharam em alta de 1,40%, a US$ 15,2350 por bushel, e os papéis para maio avançaram1,22%, a US$ 15,1475 por bushel.
O saldo líquido de vendas de soja pelos americanos somou 1,15 milhão de toneladas na semana encerrada em 19 de janeiro. O volume é 16% maior que o da semana anterior e supera em 53% a média das últimas quatro semanas, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA. O órgão reportou também a venda diária de106 mil toneladas de exportadores americanos do grão para a China, o que contribuiu ainda mais para a valorização nos preços em Chicago.
Analistas ouvidos pelo Valor já indicavam que a procura pela soja americana seria maior neste momento em que o Brasil ainda está iniciando a colheita da sua safra.
Milho
O milho também subiu no pregão de hoje. Os contratos para março, os de maior liquidez, fecharam em alta de 1,15%, a US$ 6,8250 por bushel, e os que vencem em maio avançaram 1%, a US$ 6,80 por bushel.
Diferente da soja, a demanda pelo milho americano enfraqueceu. O país vendeu910,4 mil toneladas na semana encerrada em 19 de janeiro, cerca de 20% a menos do que na semana anterior, segundo o USDA.
Ainda que a demanda tenha um peso negativo nos preços, a valorização do milho se deu pelos novos desdobramentos na guerra da Ucrânia, após Estados Unidos e Alemanha anunciarem apoio militar ao país do Leste Europeu.
A alta do petróleo também dá impulso ao milho, pois aumenta a competitividade do etanol nos EUA, onde o biocombustível é feito principalmente a partir do cereal. Nesta tarde, o barril do Brent subia 1,5%.