A presidente da estatal, Silvia Massruhá, diz que o Brasil já evoluiu na adoção de boas práticas, mas que é preciso mensurar impacto dessas ações
A presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Silvia Massruhá, quer que a estatal contribua para a criação de métricas oficiais para a sustentabilidade da produção agropecuária do país. A meta é gerar modelos e índices que possam comprovar cientificamente o que já se faz no campo e ainda orientar os produtores rurais sobre melhorias em quesitos ambientais, sociais ou econômicos de suas atividades.
A ideia é reunir essas informações em uma grande plataforma de dados que também pode servir de base para a criação de políticas públicas pelo Ministério da Agricultura, como já ocorre com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). A ausência de ferramentas capazes de fazer comprovar as boas práticas abre espaço para críticas, dentro e fora do país, que atrapalham a imagem do setor produtivo nacional.
“Nosso desafio nessa gestão são as métricas. Queremos realmente ter métricas oficiais para apoiar o governo, mostrar que a gente é sustentável nos três pilares e indicar para os produtores como podemos melhorar essa sustentabilidade”, disse Massruhá em entrevista ao Valor.
Na próxima segunda-feira, o Ministério da Agricultura vai colocar em consulta pública a proposta de criação do Programa Nacional de Cadeias Agropecuárias Descarbonizadas – Programa Carbono + Verde, que pretende avançar na definição desses parâmetros.
Evolução
A presidente diz que o Brasil já evoluiu na adoção de práticas sustentáveis, mas que é preciso mensurar o impacto dessas ações. “É importante medir para mostrar o que o produtor conseguiu melhorar em algum índice de sustentabilidade social, ambiental ou de redução de custos”, disse.
O maior desafio, pontua Massruhá, é validar os dados cientificamente, já que o processo exige revisão internacional de outros pesquisadores, o que demanda tempo. “Não adianta a gente falar que vai criar um modelo sem base científica. O sucesso da agropecuária brasileira ocorreu porque ela é baseada em ciência e tecnologia, tem sustentação e não pode ser contestada”, indicou. “Isso leva um tempinho, e a urgência é para ontem. Mas já temos pesquisas da Embrapa avançando e começamos a trabalhar já nesses índices”, completou.
Doutora em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Massruhá trabalhou com outros 200 pesquisadores no desenvolvimento do índice de sustentabilidade de uma fazenda pantaneira balizado em inteligência artificial.
Ela diz que as ferramentas e tecnologias digitais podem e devem auxiliar nesse processo. A ideia da presidente é levantar todos os projetos de pesquisa em desenvolvimento na Embrapa e produtos já prontos que possam contribuir para a criação das métricas oficiais brasileiras. A estatal tem estudos desde a pegada de carbono na produção de soja e carnes até o monitoramento de uso e cobertura da terra a partir de imagens de satélites.
Estratégia
A Embrapa pretende usar uma estratégia que já deu certo na relação da estatal como braço técnico do Ministério da Agricultura. A ideia é levar a lógica do Zarc para as práticas sustentáveis. O zoneamento, que reúne informações de solo, clima e cultivares para indicar as melhores condições de cultivo de determinadas culturas agrícolas em todo o país, nasceu de um projeto de pesquisa da empresa. A medida baliza a contratação de crédito e seguro rural.
Depois de ser terceirizado por um período, o Zarc é gerido por um comitê gestor. Há uma “plataforma colaborativa”, que recebe informações técnicas das unidades da Embrapa. Essas informações depois são validadas no campo e repassadas à Secretaria de Política Agrícola, que elabora as diretrizes para as safras.
“Quando pensamos na questão da sustentabilidade, existem dados e modelos que estão sendo gerados, não só na Embrapa. [A ideia é] como a gente integra tudo isso para fomentar as políticas públicas e mostrar que a nossa agricultura é sustentável e em que pontos podemos melhorar”, disse a presidente.
Um dos usos possíveis para os índices é aproveitá-los na formulação do Plano Safra e nas diretrizes para a redução de juros do crédito atrelada à adoção das práticas sustentáveis. “Esses índices têm que ser trabalhados para ajudar a fomentar políticas públicas”, completou Massruhá.
Por Rafael Walendorff — Brasília