Uma das líderes no país, norueguesa Yara encara cenário difícil
Por Érica Polo
Os desdobramentos da guerra na Ucrânia acenderam a luz de alerta para as operações da norueguesa Yara, uma das maiores fornecedoras de fertilizantes do mundo, com receita de US$ 16,6 bilhões em 2021 – e que disputa a liderança do mercado brasileiro com a Mosaic Fertilizantes, braço local da americana Mosaic Company. O Brasil está entre os maiores países consumidores de adubos do planeta, assim como EUA, China e Índia.
Neste ano, o cenário geopolítico global leva a Yara a enfrentar uma corrida contra o relógio para atender o agricultor brasileiro na reta final do primeiro semestre, quando normalmente é adquirida boa parte dos insumos para o plantio da safra seguinte de grãos, a partir de agosto. A norueguesa, que tem no Brasil uma de suas maiores subsidiárias, entregou 8,8 milhões de toneladas de produtos no país em 2021 – na Europa, onde ela está sediada, foram 9,2 milhões. “A Yara é uma empresa forte e muito profissional, mas agora está mal posicionada em relação ao próprio fornecimento”, disse uma fonte do segmento ao Valor. Mosaic – que faturou US$ 12,5 bilhões no mundo em 2021 – e Yara são líderes quase isoladas no Brasil, com 22% e 18% do mercado local no ano passado, de acordo com levantamento da consultoria StoneX. Em seguida está a paranaense Fertipar, com 10%.
A Yara está em uma “situação estratégica delicada”, disse um especialista, porque compra de terceiros fosfatados e potássio, enquanto a Mosaic Fertilizantes detém produção própria. “A Mosaic tem fosfatado nos EUA e parte de uma operação na Arábia Saudita. Além disso, possui minas de potássio no Canadá”. Com a guerra e as questões geopolíticas que envolvem Belarus, a Yara International restringiu suas origens de compras de matérias-primas. No início de fevereiro, a empresa já havia anunciado a interrupção de compras de Belarus, país que sofreu sanções dos EUA e da UE em 2021. Na sexta-feira, a Yara ampliou suas restrições ao divulgar a suspensão de todas as compras de fornecedores vinculados a entidades e pessoas físicas russas incluídas nas listas de represálias do continente. Países do Ocidente impuseram sanções a autoridades e empresários próximos ao governo da Rússia em resposta à invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro. “Como resultado das sanções adicionais da UE implementadas em 9 de março, a Yara interrompeu toda a compra de fornecedores russos vinculados a entidades e pessoas” que foram alvo de embargo, diz comunicado da empresa. Em nota, a subsidiária brasileira informou que pretende suprir a demanda no país por meio de sua “atuação global”, valendo-se de uma robusta rede de fornecedores. “A Yara segue avaliando a situação e atua para mitigar ao máximo possíveis impactos no abastecimento”.
Em comunicado internacional, a empresa reiterou estar preocupada com a segurança alimentar global e pediu ações dos governos para reduzir a dependência que o segmento tem da Rússia. “É crucial que a comunidade internacional se reúna e trabalhe para garantir a produção mundial de alimentos, reduzindo a dependência que tem da Rússia, embora o número de opções hoje seja limitado”, admitiu Svein Tore Holsether, CEO da Yara International, em um artigo. Entre os empresários russos que sofreram sanções da UE estão Andrey Melnichenko (EuroChem), Andrey Guryev (PhosAgro), Dmitry Mazepin (UralChem) e seu filho, Nikita Mazepin. As empresas são grandes fornecedoras dos três grupos principais de macronutrientes – N, P e K (nitrogênio, fósforo e potássio). Segundo um executivo brasileiro, a Yara é cliente de todos eles. O rol de fornecedores da companhia inclui ainda a russa Acron, que recentemente negociou a compra de unidade de nitrogenados da Petrobras em Três Lagos (MS). No dia seguinte à divulgação das sanções da UE (10 de março), as empresas russas anunciaram o afastamento dos empresários citados dos cargos de liderança que ocupavam. “Sem comprar potássio de Belarus, e agora sem a Rússia, haverá um forte impacto nos negócios da Yara aqui no Brasil”, diz um alto executivo do setor. Em nitrogenados, a empresa concentra na Europa boa parte da produção de amônia, matéria-prima desse grupo de nutrientes. Porém, em 9 de março, ela anunciou que reduziria os volumes em duas fábricas devido à alta de preços do gás natural, que dá origem à amônia. Vale notar que a relação global entre demanda e oferta de adubos está ajustada nos últimos dois anos, e novos projetos em curso não entregarão volumes adicionais da noite para o dia.