Por Fernanda Pressinott — De São Paulo
O plantio de trigo no Paraná começou nesta semana, e a expectativa da indústria local é que, com os preços em patamar recorde, a área de cultivo cresça entre 10% e 20% em comparação com a safra passada. Além das cotações elevadas, a continuidade da guerra na Ucrânia tem garantido maior liquidez para as vendas, inclusive ao exterior.
A expectativa do Sindicato da Indústria do Estado (Sindustrigo-PR) é que a área alcance entre 1,3 milhão e 1,5 milhão de hectares; no ciclo 2020/21, foram 1,23 milhão de hectares. A projeção da entidade diverge da calculada pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado, que prevê uma queda de 4%, para 1,17 milhão de hectares.
“Temos conversado com produtores e, apesar da elevação nos custos, não há motivos para não aproveitar o preço recorde do trigo”, afirmou Daniel Kummel, presidente do Sindustrigo-PR, ao Valor. O dirigente participou ontem do evento “Moatrigo – do Trigo ao Tec”, em Curitiba.
A tonelada do cereal tem sido negociada entre R$ 2 mil e R$ 2,2 mil, mais que o dobro do preço do início da pandemia, em março de 2020 (R$ 980). A escalada refletiu, inicialmente, o aumento do consumo de alimentos em casa, e mais recentemente ganhou força com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Juntos, os dois países respondem por cerca de 30% das exportações mundiais de trigo.
A maior preocupação, afirmou Kummel, é que uma eventual escassez de fertilizantes reduza o potencial produtivo das lavouras. “O governo garante que teremos insumos, e nós agora estamos acreditando que sim. Mas se o produtor perceber qualquer problema, vai guardar fertilizantes para a safra de verão [de soja, normalmente], que é a principal”, alertou. O plantio de trigo se estende até o mês de julho, a depender da região do Paraná.
Para o Deral, a área de plantio de trigo deve diminuir em 2021/22 porque o produtor tem predileção pelo milho safrinha. Mas Kummel discorda. “Dentro do Paraná, a liquidez do trigo está garantida. Alguns moinhos estão inclusive fechando contratos antecipados”.
O Paraná, que lidera a colheita de trigo no Brasil, processa normalmente 3,6 milhões de toneladas por temporada. No ciclo passado, por causa da seca, a produção ficou em 3,2 milhões de toneladas. A diferença é importada da Argentina ou do Paraguai.
Se o produtor tiver acesso aos insumos, o clima ajudar e, com isso, a produtividade se mantiver, a expectativa é que a colheita fique entre 3,8 milhões e 3,9 milhões de toneladas.
Kummel afirma que, no segmento, outro problema tem sido repassar o forte aumento dos custos de produção para a ponta consumidora. De acordo com o dirigente, ainda é cedo para fechar a planilha, mas os moinhos estão apertando as margens em cerca de 30% para poder vender.
“Estamos todos sem dinheiro e não há como repassar todos os aumentos”, diz o presidente do Sindustrigo-PR. “Com isso, toda a cadeia, incluindo supermercados, produtores, moinhos e indústrias, tem sacrificado rentabilidade”.