Com a alta taxa de juros, o custo da dívida vem pressionando, o que empurrou a companhia a buscar alternativas para levantar capital
A Marfrig, do empresário Marcos Molina, e o fundo soberano da Arábia Saudita Salic vão injetar R$ 4,5 bilhões na BRF, apurou o Valor com fontes a par do assunto. A ação no aumento de capital ficou em R$ 9, o que representa um prêmio de 24% em relação ao fechamento de ontem, disseram fontes.
O acordo, assinado na madrugada de hoje, prevê que Marfrig e Salic coloquem, cada, R$ 2,25 bilhões na BRF. Com isso, a Marfrig, que possui 33% do capital da companhia, passará a uma fatia de 38,7%, ainda segundo fontes, que pediram anonimato, visto que a transação ainda não é pública. Já a Salic, que é acionista da Minerva, passará a deter uma participação de 16% na empresa, dona das marcas Sadia e Perdigão.
Para aprovar o aumento de capital, a companhia deverá convocar assembleia de acionistas, para permitir que a Marfrig aumente sua posição acima de 33%. A BRF possui em seu estatuto um “poison pill”, que impõe um limite de participação no capital da empresa.
O J.P.Morgan foi o assessor financeiro da Marfrig, ao lado do escritório Lefosse, que foi assessor jurídico. O Citi assessorou a Salic, em conjunto com o escritório Mattos Filho.
O aumento de capital tem como objetivo sanar a situação financeira da companhia, que há anos lida com seu alto endividamento. No primeiro trimestre deste ano, a dívida líquida da BRF encerrou em R$ 15,29 bilhões. Com isso, a alavancagem — indicador que mede a razão entre a dívida e o Ebitda ajustado — foi de 3,35 vezes, considerada alta.
Com a alta taxa de juros, o custo da dívida vem pressionando, o que empurrou a companhia a buscar alternativas para levantar capital. Em 2022, a BRF chegou a colocar R$ 5,4 bilhões no caixa por meio de uma oferta subsequente (“follow-on”), já feita com o objetivo de reduzir sua alavancagem.
Além desse aumento de capital, a empresa vem buscando outras alternativas para levantar capital. Neste ano, por exemplo, o banco Santander foi contratado pela companhia para vender a divisão de pet, avaliada em R$ 2 bilhões. A companhia também busca fundos para vender precatórios e ativos judiciais, segundo fontes.
Por Fernanda Guimarães, Valor — São Paulo