Com guerra e dúvidas sobre EUA e Índia, valor do mês passado foi 63,24% superior ao de maio de 2021
Ainda em meio aos reflexos negativos da guerra entre Rússia e Ucrânia, e diante das incertezas que cercam o plantio de primavera nos EUA e do anúncio de restrições às exportações pela Índia, as cotações do trigo bateram novos recordes no mercado internacional em maio.
Segundo cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega, o valor médio no mês foi novamente o maior da história (US$ 11,4875 por bushel) na bolsa de Chicago. Em março, logo após a invasão russa, foi superada uma marca que durou 14 anos. Em abril, houve leve declínio, em um claro movimento de acomodação, mas em maio o valor voltou a subir, apesar do forte recuo de ontem. A alta foi de 6,97% em relação ao mês anterior e de 63,24% na comparação com a média de um ano antes.
Embora as restrições anunciadas pela Índia a suas exportações na atual temporada tenham sido menos rígidas do que o sinalizado inicialmente (os embarques que aguardavam liberação alfandegária foram liberados), a notícia gerou nervosismo principalmente porque a pressão de alta no mercado já havia sido renovada pelos problemas climáticos na produção americana de primavera, que podem reduzir uma oferta global já prejudicada pela crise no Leste Europeu. Rússia e Ucrânia, em condições normais, respondem por 30% das exportações mundiais de trigo.
O “weather market” continua a prevalecer nos EUA em junho, mas o clima deu sinais de melhora nas últimas semanas, o que tende a aliviar os temores. A expectativa de que a Rússia permitirá a criação de um corredor de exportações de grãos ucranianos também pode tranquilizar um pouco mais o mercado, e isso também vale para o milho. Ucrânia e Rússia, em tempos de paz, são responsáveis por cerca de 20% dos embarques globais de milho.
Com o desenvolvimento das lavouras da safra 2022/23 caminhando sem maiores sobressaltos e as perspectivas de aumento da oferta no segundo semestre, com a colaboração da safrinha brasileira, o milho recuou na bolsa de Chicago em maio. O valor médio dos contratos futuros de segunda posição foi 1,57% menor que o de abril, mas, na comparação com maio de 2021, as cotações avançaram 21,14%. E o patamar continua elevado, 5% abaixo do recorde de agosto de 2012.
No mercado de soja, a quebra de safra na região Sul do Brasil e em parte de Mato Grosso do Sul manteve o alerta ligado nos últimos meses, mas o cenário para a produção americana na temporada 2022/23 é positivo. Segundo o Valor Data, a média dos contratos de segunda posição fechou maio com queda de 2,53% em comparação com abril, o que reduziu a alta em relação a maio de 2021 a 6,27%. Mas também aqui o nível é alto, 3% menor que o recorde histórico, de setembro de 2012.
Para as principais “soft commodities” negociadas na bolsa de Nova York, maio não foi um mês de mudanças de eixos. Na comparação com abril, a média do mês foi mais elevada no caso de suco de laranja (0,56%). Houve quedas, em contrapartida, para algodão (0,16%), açúcar (0,91%), café (3,3%) e cacau (3,77%). Mas em relação a maio do ano passado, todas elas tiveram altas – a maioria, consideráveis. A maior foi a do algodão (61,09%), seguida por suco (45,35%), café (44,8%), açúcar (12,3%) e cacau (1,15%).