No primeiro semestre, preço médio para arrendar áreas agrícolas caiu 8,4%, mostra estudo
O declínio dos preços das principais commodities agrícolas e a desaceleração do mercado de terras reduziram os valores dos arrendamentos em todas as regiões do Brasil neste ano. Estudo da S&P Global Commodity Insights mostra que o preço médio do arrendamento rural no país foi de R$ 2.105 por hectare no primeiro semestre. O valor é 8,4% menor que o do intervalo período de 2022.
“No cenário de queda dos preços dos produtos, alguns produtores rurais não renovaram contratos e acabaram devolvendo áreas. A oferta dessas terras tem resultado em uma pressão para que novos contratos sejam fechados a preços mais baixos”, afirmaram no levantamento os analistas Leydiane Brito e Gabriel Faleiros, da S&P.
A procura por arrendamentos de terras agrícolas em regiões em que a oferta de áreas é geralmente muito grande, como o Centro-Oeste e o Sul, perdeu força do ano passado para cá.
No intervalo de 12 meses até junho, os valores dos arrendamentos no Centro-Oeste acumularam queda de 11,38%, e no Sul, de 9,43%. No Sudeste, o recuo foi de 3,45%, no Norte, de 11,21%, e na Região Nordeste, de 10,92%. Nesse contexto, os especialistas também acreditam que o viés de baixa deve persistir no mínimo ao longo deste segundo semestre.
Embora os custos de produção de várias commodities agrícolas tenham caído, a queda dos preços de venda deverá fazer com que as margens dos produtores em 2023/24 sejam menores que as das duas últimas temporadas. Isso tende a reduzir a demanda por novos arrendamentos.
Menos conversão de áreas
Os analistas afirmam, além disso, que a conversão de pastagens para a produção de soja possivelmente “tornou-se negativa para a safra 2023/24, cenário diferente dos últimos anos, quando havia forte incentivo” à expansão de áreas de cultivo.
Jeferson Souza, analista de inteligência de mercado da Agrinvest Commodities, alertou que o apetite dos produtores para aumentar em 4% a 4,5% ao ano as áreas de grãos tende a diminuir nas próximas temporadas.
Na safra 2022/23, a área agrícola do Brasil cresceu 4,6%, para 74,05 milhões de hectares. A conta desconsidera as culturas de inverno, quem juntas somaram mais 4,17 milhões de hectares para esta temporada, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Para a temporada que vem, existe a possibilidade de uma desaceleração neste movimento”, disse o especialista.
Em Mato Grosso, Estado que, no próximo dia 15 de setembro, dará início ao plantio de soja no país, a área de cultivo em 2023/24 deverá crescer apenas 0,82%, para 12,2 milhões de hectares. No ciclo anterior, o aumento havia sido de 5,67%, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Para Jeferson Souza, da Agrinvest, a redução de liquidez no mercado de terras, aliada à diminuição das margens dos produtores, exigirá discussões mais aprofundadas sobre o patamar de preços dos arrendamentos que será praticado nas próximas safras.
“Acredito que vamos entrar em uma discussão bastante grande para os próximos anos sobre a renovação destes contratos”, comentou o especialista.
Ele calcula que, em um intervalo de cinco anos, em média, o custo do arrendamento saiu de 10 sacas para 18 a 20 sacas por hectare. Atualmente, afirma Souza, a depender da produtividade da região, das despesas com insumos e dos preços de venda do grão, essa conta não fecha.
Mario Lewandowski, diretor de Novos Negócios da gestora AGBI, acredita que, “do ponto de vista financeiro, o tipo de retorno que as pessoas estão procurando em um investimento de terra para arrendamento é um investimento que nós entendemos que não é competitivo com as taxas (de juros) de hoje”.
O executivo defende modelos alternativos para esses tipos de contratos, como o que é adotado na empresa, que permite uma “carência” ao arrendatário. O custo aumenta gradativamente com o passar dos anos, para que o arrendatário consiga pagar enquanto transforma as pastagens degradadas dos fundos da AGBI em áreas maduras.
Por Nayara Figueiredo — São Paulo
Fonte: https://globorural.globo.com/agricultura/noticia/2023/07/valor-arrendamento-terras-brasil.ghtml