Perdas são causadas por fenômenos climáticos adversos cada vez mais frequentes e com maior intensidade
O mundo está passando por mudanças climáticas ou apenas variações do clima? A discussão sobre o futuro do clima não tem grande importância no momento. O que interessa é que o problema já está presente nas lavouras.
Nas últimas quatro safras, as perdas dos produtores paranaenses e gaúchos de soja somam US$ 28 bilhões (R$ 140 bilhões), devido a fenômenos climáticos adversos cada vez mais frequentes e com maior intensidade.
A avaliação do clima e os números das perdas são de José Renato Bouças Farias, pesquisador da Embrapa Soja. Esses valores se referem apenas ao que o produtor deixou de receber, mas o estrago econômico se espalha ainda mais por toda a cadeia da soja e pela economia do país, segundo ele.
Já que a soja é o principal produto da agricultura brasileira, com um Valor Bruto de Produção de R$ 352 bilhões nesta safra (receitas dentro da porteira) e exportações de US$ 58 bilhões do complexo soja (grãos, farelo e óleo), a Embrapa traz um novo zoneamento agrícola de risco para a oleaginosa, o que deverá diminuir riscos e permitir aos produtores administrarem melhor a sua produção.
Junto com o Ministério da Agricultura e com o Banco Central do Brasil, a Embrapa está promovendo aprimoramentos que tornam a avaliação dos riscos mais próximas da realidade dos sistemas produtivos.
As novas avaliações de risco passam a contemplar seis novos tipos de solo, levando em consideração a composição textural e a quantidade de água disponível em cada um deles. Até agora, o Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) levava em consideração apenas três tipos de solos, estabelecidos pelo teor de argila.
Farias diz que o processo de retenção de água também é importante, por isso a Embrapa fez a classificação da água disponível no solo com base na areia, na argila e no silte.
O novo processo vai determinar melhor a disponibilidade de água no solo. Com isso, o zoneamento, que antes era mais utilizado para a determinação de seguro agrícola, passa a ser também um instrumento para o produtor.
As amostras podem identificar diversos tipos de solo na mesma propriedade, permitindo uma orientação mais precisa para o produtor.
O agricultor, com o conhecimento melhor do solo e sua possibilidade de recarga de água, pode administrar melhor seus riscos, segundo Farias.
Com as informações, o produtor poderá administrar melhor os riscos entre o plantio de soja e de milho, duas das principais culturas.
Se as condições estiverem mais favoráveis para o milho, poderá antecipar a semeadura da soja, ampliando a janela de plantio do cereal e melhorando sua rentabilidade.
Se as condições indicarem uma melhora para a soja, o produtor vai atrasar o plantio da oleaginosa e correr mais risco no plantio do milho.
Esse novo modelo agrometeorológico, que considera temperaturas, chuvas, geadas, água disponível no solo e demanda hídrica de culturas, permite ao produtor escolher o tipo de lavouras e as cultivares, que podem ser com colheita de curta, média e longa durações. Esse novo sistema de zoneamento agrícola de risco para a soja, lançado hoje pela Embrapa, estará disponível já na safra 2022/23. Foi um projeto bem aceito pelo sistema financeiro, por produtores, cooperativas e sindicatos, diz Farias.
Um segundo passo, já a partir da safra 2023/24, é entrar com novos níveis de manejo no campo, considerando os seis tipos de solo e a água disponível.
Um conjunto de indicadores vai demonstrar o nível tecnológico do solo da propriedade. Quanto melhor o manejo, maior o aproveitamento do solo, afirma o pesquisador da Embrapa.
O manejo permite uma maior recarga de água, armazenamento e manutenção de um sistema radicular que permite a subida da água do solo para as plantas.
Farias participa do 9º Congresso Brasileiro de Soja da Embrapa, que ocorre até quinta-feira (19).