Mercado brasileiro será um dos motores da expansão global da startup alemã Constellr
A partir deste ano, a Constellr, uma startup alemã criada por ex-executivos de empresas da grande indústria agroquímica, vai mapear dados sobre a presença de água nos solos brasileiros. A empresa, que utiliza satélites da Nasa, a agência espacial americana, tem como meta alcançar vendas de € 50 milhões até a metade de 2024 – e o mercado brasileiro será decisivo nessa estratégia.
A multinacional faz o chamado monitoramento “espacial” de água, de temperatura e de gás carbono no solo por meio de um satélite hiperespectral, cuja tecnologia é chamada de Ecosfera Versátil de Alta Precisão (HIVE, em inglês). Isso quer dizer que a ferramenta permite fazer a medição de alta frequência da temperatura da superfície terrestre.
Em órbita desde 2022, a HIVE captura as fotos de áreas de plantio para analisar as mudanças que acontecem durante o ciclo produtivo e, com isso, prever os resultados da safra. As análises de dados se transformam em um diagnóstico espacial com indicações do que o produtor deve fazer e é compartilhada por meio de uma API (do inglês Application Programming Interface – conjunto de ferramentas para criação de aplicações de tecnologias) ligada a plataformas digitais que os produtores já utilizem. Os dados ficam armazenados e são atualizados em tempo real.
”O Brasil pode se tornar o nosso principal mercado no mundo” — Thomas Britze
O agricultor que comprar a tecnologia poderá acessar os resultados a partir de 2024. Até lá, a Constellr vai se dedicar à coleta de diversas regiões do Brasil e do mundo e no trabalho de pré-venda, contou ao Valor Thomas Britze, que lidera o trabalho de desenvolvimento de negócios e vendas da startup no país.
Com o método de captura, a multinacional assegura oferecer dados precisos ao produtor que compre o acesso às informações, que deverão custar em média R$ 19 por hectare. A tecnologia pode monitorar regiões afetadas pela seca ou pelo estresse hídrico e, ao mesmo tempo, antecipa a informação sobre esses problemas para os investidores.
“Os satélites capturam fotos com uma precisão que ainda não existia no mercado. Além da melhoria na qualidade dos dados, a medição traz muitos benefícios para os produtores como a tomada de decisão na semeadura, na nutrição e no uso de defensivos para ter proteção de plantas e otimizar recursos”, reforça o executivo.
No Brasil, a recém-chegada multinacional quer trabalhar tanto com pessoa física, como jurídica e aposta em seis segmentos para negócios: produtores agrícolas de grande e médio porte, empresas de insumos, consultores técnicos, mercado de irrigação e bancos. De acordo com o executivo, “fisgar” o setor financeiro nas negociações é uma forma de qualificar em que grupo de risco os produtores estão possibilitando crédito para quem financiar a tecnologia espacial.
“A empresa acredita no potencial do Brasil e estima para os próximos anos um desenvolvimento de negócios capaz de tornar o país o principal mercado da startup no mundo. O Brasil é um celeiro global, onde crescem tanto a produção de alimentos quanto a geração de energia renovável”, avalia Britze.
A companhia ainda não possui um satélite próprio, mas pretende lançar a própria constelação em 2024. No Brasil, ela conta com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e também de instituições de ensino para monitorar as informações, que são cruzadas com informações de satélites públicos.
Tobias Menne, executivo que encabeça a área comercial da empresa, contou ao Valor que a tecnologia consegue garantir precisão e transparência porque mede a temperatura da água e não precisa colher amostras no solo. Segundo ele, isso agiliza o mapeamento e gera informação em tempo real para semeadura, nutrição ou proteção da lavoura.
“Medimos a temperatura da água a partir do espaço e temos precisão quase que diariamente, o que significa que soja, milho ou cana-de-açúcar pode ter medição efetiva para sobreviver ao estresse hídrico. Tem muita água no solo, então, também evitamos riscos de desmatamento, deslizamento de terra, entre outros eventos ambientais atípicos”, explicou o executivo.
Nos próximos dias, a empresa alemã vai começar campanhas de aproximação com potenciais clientes no Brasil. Nos últimos três anos, Estados Unidos e países europeus, além da própria Alemanha, têm monopolizado a carteira de clientes da Constellr. Embora a companhia não informe sua participação de mercado nem apresente suas estimativas de receita, os executivos veem a entrada na agricultura brasileira como uma estratégia capaz de dar escala aos negócios da companhia e de fazer avançar suas operações na América Latina.
Por Isadora Camargo — De São Paulo – 20/06/2023