Preocupação está na incidência de doenças fúngicas no cereal destinado à panificação
A comercialização antecipada do trigo está paralisada no Rio Grande do Sul em razão das incertezas quanto à qualidade da safra deste ano, prejudicada pelo excesso de chuvas. Na região de abrangência da cooperativa Cotribá, com sede em Ibirubá, já são projetadas perdas de 20% na produção, segundo o presidente da organização, Celso Krug. A grande preocupação é que o forte aumento da incidência de doenças fúngicas, principalmente a giberela, inviabilize a venda de parte do grão à indústria de panificação.
As perspectivas de comercialização do cereal foram um dos temas abordados no IX Fórum Nacional do Trigo, realizado na sexta-feira (6) pela Cotribá em parceria com a Biotrigo Genética e o Sindicato Rural de Cruz Alta, como parte da programação da Fenatrigo Agrotecnologia. O evento encerrou-se neste domingo (8), no Parque Integrado de Exposições de Cruz Alta. Com 9,5 associados, a Cotribá recebeu em torno de 4 milhões de sacas de trigo na safra de 2022 (o equivalente a 240 mil toneladas do grão). Neste ano, a colheita deve ganhar impulso daqui a duas semanas, estima Krug. “Como não se sabe ainda a qualidade (que o trigo terá), as empresas também não estão comprando. O mercado está travado”, afirma o dirigente.
Atualmente, o trigo com bom potencial para uso na indústria moageira – com pH de 78 – é negociado na região de R$ 54 a R$ 55 a saca, segundo o presidente da Cotribá. De acordo com o último levantamento semanal de preços realizado pela Emater/RS-Ascar, divulgado na quinta-feira (5), a cotação média do produto no Estado estava em R$ 54,06, uma queda de 3,71% em comparação ao valor registrado na semana anterior. Neste ano, as chuvas excessivas coincidiram com a etapa de floração da cultura, facilitando a disseminação de doenças fúngicas, o que tende a achatar os preços do cereal. “Quando chove muito, a giberela se instala e a qualidade do trigo baixa, ele não termina o ciclo”, explica Krug.
Independentemente do resultado da colheita e dos prejuízos acarretados pelo clima, ele afirma que a cooperativa receberá todo o volume produzido pelos associados. “(Parte) vai acabar provavelmente indo para a indústria de ração animal. Mas a cooperativa vai receber tudo, para depois ver o que vamos fazer com a comercialização”, adianta o dirigente.
Estado já colheu 3% da safra 2023
Com a trégua nas chuvas e a continuidade de alguns dias ensolarados, a colheita do trigo já foi concluída em 3% da área cultivada com o cereal no Estado, diz o Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar divulgado na quinta-feira (5). De acordo com a empresa de assistência técnica, a cultura está progredindo rapidamente em direção às etapas de enchimento de grãos e maturação, que representam, até o momento, respectivamente 58% e 23% das lavouras. É nessas fases que se determina a produtividade, incluindo o tamanho e a qualidade do trigo, já que o número de plantas e a quantidade de grãos por vegetal já foram definidos nos estágios iniciais.
“Em razão da possibilidade de aumento na pressão das doenças nas espigas e espiguetas, também se eleva o número de grãos afetados, comprometendo o potencial produtivo das lavouras. Esse cenário é perceptível à medida que as lavouras entram na fase de maturação, pois a coloração amarela-pálida é reflexo da incidência de sintomas de doenças, como brusone e giberela, que afetam o desenvolvimento final dos grãos”, destaca a publicação da Emater/RS-Ascar. Das lavouras gaúchas, 1% ainda estão em fase de germinação e desenvolvimento vegetativo, e 15%, em floração .
Neste ano, o cultivo de trigo ocupa 1,505 milhão de hectares no Rio Grande do Sul – uma redução de 1,5% frente à área plantada em 2022. A estimativa inicial de produção da Emater/RS-Ascar era de 4,548 milhões de toneladas, resultado 14% inferior em comparação com a safra anterior.